sábado, 25 de outubro de 2014

AIDS e Diarreia




       A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a AIDS, é causada pelo HIV. Vírus que ataca as células de defesa do corpo, e faz que o organismo fique mais vulnerável a várias doenças, de um simples resfriados a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. A AIDS ocorre principalmente nos países mais pobres e nos que possuem maior desigualdade social.

       Desde os primeiros casos descritos e compatíveis com a AIDS, tem-se observado a prevalência de alterações clínicas relacionadas ao trato gastrointestinal dos infectados, sobretudo, quadros diarreicos. 


O vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi inicialmente considerado causa dos sintomas intestinais em pacientes HIV com ausência de patógenos causadores de diarreia. É comum em pacientes HIV/AIDS o encontro de apoptose, abcessos, atrofia das vilosidades, má absorção e digestão. [...] A etiologia do processo diarreico na AIDS é variável, podendo ser causada por vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos, assim como pelo próprio HIV que determina efeitos diretos sobre a mucosa intestinal, produzindo a enteropatia da AIDS. [...]

[...] Muitas espécies de enteroparasitas passaram a ter importância como agentes potencialmente patogênicos para os pacientes infectados com o HIV, principalmente nos doentes com número de linfócitos T CD4 menor que 200 células/mm3. Apesar da introdução da terapia antirretroviral de alta potência (HAART) estudos realizados nos últimos anos relatam diarreia crônica em grande parte dos pacientes, mesmo após recuperação imunológica. ¹


        A diarreia nos pacientes HIV positivos leva a deterioração dos quadros clínicos e diminuição da qualidade de vida destes. Uma vez que predispõe estes pacientes às infecções entéricas o que, por sua vez, deixa-os suscetíveis a níveis baixos de alguns patógenos, que produziriam apenas leves infecções em pessoas saudáveis. Fato que agrava a imunossupressão, acelera o curso da doença e, em última instância, a morte desses pacientes.










Referências: 

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822009000500013 ¹ (acesso em 24/10/2014)

http://www.aids.gov.br/pagina/aids (acesso em 24/10/2014)

http://seujornal.com/saude/126-contrastes-nas-doencas-de-ricos-e-pobres (acesso em 24/10/2014)


sábado, 18 de outubro de 2014

Aleitamento materno x Diarreia


     
    A Semana Mundial de Aleitamento Materno, realizada no dia 01 de agosto de 2014, teve como tema: Amamentação, uma vitória para toda a vida! Neste ano, o Comitê Científico em Nutrição da ONU buscou ressaltar a importância da promoção e do apoio ao Aleitamento Materno,  junto aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Em relação ao primeiro objetivo -erradicar a fome e a pobreza extrema - foi dito:


 A amamentação exclusiva e a continuidade da amamentação por dois anos fornece a mais alta qualidade de energia e nutrientes, pode ainda ajudar a prevenir a fome e a má nutrição. A amamentação confere custo e benefício ao alimentar bebês e crianças. É acessível para todos e não sobrecarrega os orçamentos familiares, em comparação com  a alimentação artificial. ¹

      Em condições de pobreza, a amamentação tem o poder de salvar vidas, enquanto que o uso de substitutos do leite materno representa um um enorme risco à sobrevivência do bebê.  Tanto que o fenômeno do desmame precoce, causado pelo processo de industrialização e urbanização da sociedade, é apontado como um importante fator de morbimortalidade infantil no primeiro ano de vida. Muitos estudos analisam essa relação, dentre eles o "Matador de Bebês", de Mike Muller, que apresenta os resultados de uma investigação sobre os efeitos da promoção e da venda de leite em pó na saúde de bebês do Terceiro Mundo, no início da década de 60. 


     Isso porque  a amamentação é um modo insubstituível de fornecer o alimento ideal para o crescimento e desenvolvimento saudável de lactantes.  O leite materno existe com o propósito de nutrir o recém nascido, logo, possui a quantidade ideal de carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e sais minerais de que ele necessita e é adequado ao seu organismo. Ademais,  o leite materno contém agentes imunológicos, doados pela mãe, que protegem a criança contra várias doenças. 



   Assim, para a criança de baixa renda que vive em condições precárias de higiene o aleitamento materno pode ser a diferença entre viver e morrer. A ausência do leite (antes dos quatro meses) e a introdução de outros alimentos à dieta da criança durante esse período, resultam em consequências importantes para a saúde do bebê, tais como: exposição a agentes infecciosos; contato com proteínas estranhas; prejuízo da ingestão e assimilação de elementos nutritivos.  



    No início do período de desmame ocorre a redução do consumo de nutrientes, a proteção oferecida pele leite materno desaparece e eleva-se a frequência de doenças infecciosas, como as doenças diarreicas. Os componentes celulares (monócitos,linfócitos e neutrófilos) e os componentes solúveis (proteínas, lipídios e carboidratos) do leite possuem ação antigênica e protegem os bebês de doenças diarreicas ou gastroenterites.
             
O colostro [primeiro leite produzido pela mãe após o parto] possui um fator de crescimento probiótico que promove a colonização do trato gastrointestinal infantil pelas bifidobactérias (Lactobacilus) envolvidas na produção de ácido lático, substância prejudicial ao desenvolvimento microbiano. Além disso, as bifidobactérias competem com os microrganismos exógenos  patogênicos pelo ambiente gástrico e entérico infantil. Dessa forma o leite materno prejudica diretamente o desenvolvimento de enterobactérias como: Enterobacter, Klebissella, Serratia, Shigella, E. coli, Citrobacter, que são apontadas como algumas das principais causadoras de diarreias pediátricas. ²
       
      Por isso é tão importante incentivar o aleitamento materno até pelo menos o sexto mês de vida da criança, pois é nesse ato que reside a maior estratégia de prevenção contra diarreias e promoção da saúde infantil. 



Referências:





quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Diarreia aguda: do social ao bioquímico


            A diarreia é um dos sintomas essenciais das afecções intestinais. Ela caracteriza-se pelo aumento do peso fecal diário, que passa a ser superior a 200 gramas, e pela liquefação das fezes. Ademais, está associada ao aumento da frequência das dejeções - mais de três vezes ao dia - e pode estar acompanhada de desconforto perianal, urgência e de incontinência. 


“Os principais efeitos das diarréias resultam da perda de sal e água. Nas diarréias osmóticas, a presença de drogas ou nutrientes não absorvidos e não digeridos, osmoticamente ativos, atraem fluidos para o lúmen intestinal, a secreção de água é maior do que a de sódio, com desidratação e hipernatremia. Hiponatremia, em conseqüência ao aumento da secreção de hormônio antidiurético, pode ocorrer. O volume intraluminal aumentado pode estimular o desenvolvimento de ondas propulsoras que levam ao aumento das dejeções. A depleção de potássio ocorre em qualquer que seja o mecanismo da diarréia. O esvaziamento prematuro causado por irritabilidade ou inflamação diminui o tempo de contato entre a mucosa intestinal e conteúdo luminal, fazendo com que as fezes fiquem liquefeitas e as evacuações mais freqüentes.” ¹
As diarreias podem ser classificadas em alta e baixa, de acordo com a localização anatômica, e em aguda e crônica, em relação ao tempo de duração.
As diarreias agudas são caracterizadas pelo início súbito e pela duração inferior a três semanas, existem, no entanto,  casos esporádicos em que elas perduram por até oito semanas. A transmissão dos seus agentes etiológicos é fecal-oral, e dá-se por contato direto (mãos) ou indireto (utensílios domésticos, água e alimentos).
          80% das diarreias agudas são causadas por infecções bacterianas, parasitarias, protozoárias ou virais. A porcentagem restante decorre de: fungos; contaminação alimentar; medicamentos; ingestão de agentes não absorvíveis; isquemia intestinal; impactação fecal; inflamação pélvica.


Nos ambulatórios pediátricos públicos ou privados, a diarreia aguda é, até o segundo ano de vida, a doença de maior frequência, e após essa idade, sua ocorrência só é suplantada pelas doenças respiratórias.  Em certas áreas geográficas, as taxas de ataque variam de 2 a 12 episódios por criança ao ano. 
No Brasil, admite-se que 28 milhões de crianças menores de cinco anos estejam sob risco de apresentarem diarreia e suas complicações. No Nordeste, a diarreia é a causa mais importante de morte na população pediátrica de menor idade. Fato consonante a estudos que revelam que a grande incidência da diarreia aguda ocorre no primeiro ano de vida, quando a mortalidade e a morbidade é também mais frequente.
As crianças de baixa idade que vivem em precárias condições sociais e econômicas são, contudo, as que mais estão sujeitas as complicações dessa intercorrência. São elas que mais são levadas a óbito por ela, que tem seu crescimento interrompido e que são acometidas pela desnutrição ou tem agravada aquela já possuíam.


A criança que apresenta vários casos de diarreia aguda durante um ano ou que morre em decorrência de um episódio diarreico reflete a confluência de fatores físicos e de fatores sociais desfavoráveis.  Dentre os fatores físicos se têm: condições adversas de gestação; má nutrição materna; baixo peso ao nascer; desmame precoce; nutrição e estado imunitário desfavoráveis. E dentre os sociais estão: precárias condições de habitação; higiene e saneamento inadequados; distribuição de água se má qualidade; ignorância dos pais, ambiente. Estes fatores, quando interligados, se intensificam e determinam elevados índices de morbidade e mortalidade.
Na próxima postagem abordaremos, bioquímica e socialmente, as diarreias crônicas.

Referências:
¹ http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=1459 (acesso em 08/10/2014)
http://www.gesepfepar.com/semiologia/gastroenterologia/diarreia.pdf (acesso em 08/10/2014)
http://www.fisfar.ufc.br/petmedicina/images/stories/diarreias.pdf (acesso em 08/10/2014)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292002000200004 (acesso em 08/10/2014)
http://drauziovarella.com.br/letras/d/diarreia/ (acesso em 08/10/2014)
www.medicina.ufba.br/educacao_medica/graduacao/dep_pediatria/disc_pediatria/disc_prev_social/roteiros/diarreia/diarreia_aguda.pdf (acesso em 08/10/2014)


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Diarreia: do social ao bioquímico

N
o passado, as condições sanitárias inadequadas das cidades e o desconhecimento da etiologia das doenças infecciosas por parte da sociedade, fizeram que grandes epidemias assolassem as noções, dizimando suas populações e, por conseguinte, limitando os seus crescimentos demográficos. Hoje, a despeito dos grandes avanços científicos e tecnológicos, essa ainda é uma realidade vigente em certas regiões do mundo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o saneamento básico precário como um fator prevalente no rol de agentes que ameaçam a saúde humana. Sendo esse, portanto, um problema de saúde pública, visto que o saneamento básico de qualidade reduz drasticamente a exposição da sociedade a vetores patológicos, o que, evidentemente, previne doenças e eleva a qualidade de vida da população.
Conquanto seja um problema presente em diversas regiões do mundo e afete pessoas de todas as classes sociais, a falta de saneamento básico está fortemente associada a países em desenvolvimento e à pobreza. Tendo em vista que os problemas que dela decorrem afetam, principalmente, a parcela da população de baixa renda que está mais vulnerável por se encontrar em estado de subnutrição e, muitas vezes, por falta de condições, possuir uma higiene inadequada.


São inúmeras as doenças vinculadas à falta de saneamento, dentre elas destaca-se a diarreia, uma doença de fácil prevenção, mas que ainda causa milhões de mortes todos os anos. Estima-se que dois milhões de crianças ao redor do mundo morram vítimas de diarreia, sendo essa a terceira maior causa de morte em crianças menores de cinco anos nos países mais pobres. E ao se somar esse número ao de mortes das demais faixas etárias, se obtém um total semelhante ao de óbitos anuais por AIDS, que é estimado em 2,1 milhões.
O estudo “Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População”, divulgado pelo instituto Trata Brasil em 2013, reitera a existência da associação entre o saneamento básico precário, pobreza e índices de internação por diarreia. Ademais, revela que as diarreias correspondem a mais de 50% das doenças relacionadas a saneamento básico inadequado no Brasil.
Diversos exemplos podem corroborar essa pesquisa. No Amazonas, em março deste ano, cerca de 100 moradores de Nova Olinda do Norte – comunidade ribeirinha a 135 km de Manaus – foram diagnosticados com diarreia após ingerirem água contaminada por dejetos da cheia. Em Alagoas, só este ano, mais de 50 pessoas morreram vítimas de diarreia. Pessoas que devido à falta de outras reservas, foram obrigadas a ingerirem água com qualidade incompatível com o consumo humano, e frequentemente contaminada.
A diarreia pode se dá por meio da contaminação com agentes patológicos como vírus, bactérias e parasitas. Compreender as diversas etiologias das diarreias é importante para que se possa identificar e diferenciar aquelas formas potencialmente graves, com risco de morte, daquelas mais benignas, auto limitadas. E assim, utilizar o tratamento mais indicado. Nos países em desenvolvimento, os agentes bacterianos possuem maior relevância devido às condições de higiene e saneamento básico da população. Enquanto que, nos países industrializados, os agentes virais são os principais contaminadores.
Existem quatro principais mecanismos que alteram a fisiologia intestinal e podem provocar a diarreia, são eles:

  1.    Aumento na secreção de líquidos e eletrólitos, principalmente no intestino delgado;
  2.     Absorção diminuída de líquidos e eletrólitos, envolvendo o intestino delgado e cólon;
  3.      Aumento na osmolaridade
  4.      Distúrbios da motilidade
Nas próximas postagens, iniciaremos uma discussão mais aprofundada dos mecanismos de contaminação, bem como as alterações bioquímicas que esses agentes patológicos provocam no organismo humano.

Referências: